28/04/2011

O Gosto do Jambo Amarelo

Quando eu era garota morava numa casa que tinha um quintal pequeno, claro que pra mim ele era enooooorme devido à minha miudez, mas era bem pequeno. E havia um pé de jambo amarelo na casa do vizinho que pendia algumas galhas pelo muro relativamente alto. Eu era louca por aquela fruta! Sempre tinha algum adulto prestativo pra roubar umas frutinhas dos cachos. Roubar é uma palavra forte, na verdade a gente só não deixava desperdiçar, já que o vizinho não alcançaria mesmo aqueles frutos.
Era um verdadeiro deleite quando conseguia ter nas mãos o tal do jambo amarelo! Pra quem não sabe, é uma fruta sequinha, sem sumo, sem polpa, com a casca bem grossa e macia, oca e com uma semente marrom grande pro tamanho da fruta. É como se fosse uma goiaba sem poupa, com um ou dois caroços...ah! Com cheiro e gosto de flor!!! Compliquei? Pesquisa aí que tá difícil explicar!


Mas voltando ao assunto, eu adorava comer aquele troço! Me mudei dessa casa ainda muito menina, mas jamais esqueci daquele pé de jambo. Por ser um fruto raro, passei muitos anos  só na lembrança do sabor.
Tive a chance de comê-lo novamente, já adulta, e percebi que a gente guarda muito mais coisas na mente. Não era só o sabor e o cheiro, a textura e a tal semente guardada no oco. Era a infância inteira! Lembrei de ver a fruta no pé, de como ficávamos (eu e meus irmãos) empolgados com a aventura de alcançar o cacho, do cuidado que o tal adulto tinha que ter pra não deixar cair do outro lado quando fosse apanhar um fruto mais no alto. Não...não era roubo! Pegar fruta na árvore do vizinho (que era amigo da família) jamais seria roubo! Naquele tempo isso era permitido. Tinha sua graça! "As crianças do vizinho estão tentando pegar jambo de novo...hihihi" dizia a esposa ao marido. Rolava uma cumplicidade silenciosa entre todos os envolvidos. Nós falávamos baixinho, dávamos dicas pro "ladrão"..."mais pra cima, mais pro lado!"
Na hora da partilha era tudo dividido igualmente, irmãmente. Chegávamos a cortar em vários pedaços pra que ninguém ganhasse mais ou menos que os outros.

Talvez nem fosse pelo fruto. Talvez fosse só pelo prazer do trabalho em equipe, ou por poder dividir alguma coisa entre nós irmãos. Pode ser que fosse só pra preencher o momento vazio daquele adulto que só tava ali olhando as crianças brincarem...vigiando pra que não fizessem nenhuma besteira ou se machucassem.
Era uma farra! Uma demonstração de força e companheirismo. Um por todos e todos pelos jambos amarelos!!!!! 

Não sei que tipo de aventura as crianças de hoje vivem...mas duvido que tenha gosto de jambo! Será que dividem seus pacotes de salgadinhos irmãmente?


*Fiquei sabendo que minha avó plantou um pé de jambo amarelo uns meses antes de falecer...isso já faz alguns anos. Valeu, vó! Isso foi realmente uma surpresa!!! Nos devolveu o sabor da infância...ou pelo menos tentou.



.qualquer imagem que eu colocasse aqui ia estragar a lembrança que tenho...então vai ficar sem mesmo, ok?

4 comentários:

Jeronimo disse...

Lindo texto, Re!! Fez vibrar umas cordas de minha infância, de um tempo e um sentimento onde não existiam tantas restrições, alarmes e distanciamento entre as pessoas (vizinhos e etc.).

P.S. Nunca comi jambo de nenhuma cor! Preciso dar um jeito nisso, rsrs.

Renata Galvão disse...

Acho tão bom quando tem um comentário seu, Jerônimo! É sempre poético! Obrigada, amigo!

Jambo tem gosto de flor...tanto o amarelo quanto o roxo. =)

Anônimo disse...

Puxa que delícia de história tão gostosa quanto o sabor dejambo amarelo, é uma pena que as criança de hoje não sabe o prazer de comer um fruto da arvore do vizinho!!! eu pude viver isso na infância o foi muito marcante!!!!!

Renata Galvão disse...

Obrigada, vc aí de cima que não se identificou! Devia ser uma criança que adorava brincar de pique esconde...rs...
Valeu pelo comentário! Abraço.